sábado, 3 de agosto de 2013


A ameaça do dólar alto

O grande vilão da economia brasileira no momento chama-se dólar alto

por Carlos José Marques
O grande vilão da economia brasileira no momento chama-se dólar alto. Ele sobe exponencialmente por esses dias e não dá qualquer sinal de que pode ceder. O País passa a viver sobre o tacape de uma produção industrial que custa caro – devido às importações de matéria-prima – e de um comércio com preços pela hora da morte, em virtude do mesmo fator. Sem contar o peso da tal virada cambial sobre o setor de serviços. Em suma, a moeda americana, que acumula alta de quase 15% no ano por aqui, pode estrangular todo o esforço interno de empresários que buscavam fôlego em meio à anemia do PIB – hoje andando de lado. 
 
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Depois de perceber a ameaça, o governo tratou de ressuscitar antigos artifícios, como o dos leilões diários. Voltou também atrás no plano, desde sempre arriscado, de aplicar um imposto de importação a diversas mercadorias. Comunicou na semana passada a redução dessa taxação sobre 100 produtos – medida válida a partir de outubro – e fará o mesmo quanto aos investimentos internacionais na bolsa. É uma resposta, embora paliativa. Não deve resolver o problema crucial que é a aposta firme e lucrativa de especuladores contra a estabilidade do mercado interno. 
 
O Banco Central deliberadamente incentivou nos últimos tempos esse movimento com uma política monetária que visava o fortalecimento da moeda americana. A alternativa, temerária, descambou para uma sobrevalorização sem controle e um descompasso cambial que agora colocam em risco as conquistas amealhadas no tocante à geração de riqueza nacional. A antiga cantilena de que real fraco ajuda nas exportações ganhou espaço e acabou por evidenciar que esse tipo de incentivo artificial só servia mesmo ao interesse de poucos, em prejuízo da maioria produtiva. No atual estágio, os ventos de fora não são nada promissores no que se refere a uma virada de cenário cambial. 
 
O PIB dos EUA acaba de crescer 1,7% no trimestre e, ao contrário do que se possa imaginar, não é essa uma notícia favorável ao Brasil, do tipo “a economia americana acaba puxando todo mundo para cima”. As remessas de capital estão voltando ao antigo leito e vai faltar dólar por aqui para as necessidades correntes. Por enquanto, o problema é administrável, dado que os EUA ainda não desistiram da prática de estímulo monetário de seu mercado via injeção maciça de dólares na praça. Mas, depois que essa torneira fechar, o Brasil, como vários outros países, vai ter que segurar o tranco nas respectivas moedas. Senão elas viram pó.

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