terça-feira, 29 de outubro de 2013

O papel dos líderes na criação de empresas inovadoras

As atitudes dos gestores desenvolvem ambientes mais propícios às novas ideias




A pergunta que faço na coluna deste mês é: o que fazem os líderes de empresas inovadoras para criar e sustentar um ambiente em que a inovação floresça e se mantenha em ciclos longos de vida? Seria a Apple mais inovadora devido à presença do Steve Jobs? Como fica a Apple sem Jobs? Menos inovadora? Seria a Natura uma das empresas brasileiras mais inovadoras devido à influência de seus três fundadores, Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos? Como fica a Natura profissionalizada e operacionalmente distante desses líderes? E, nas empresas dos leitores, qual é a influência de seus líderes em sua capacidade de inovar?

Em artigos anteriores, comentei sobre os desafios de criar uma cultura de inovação em que as pessoas se sintam motivadas e desafiadas a gerar ideias e desenvolver projetos inovadores. Comentei também que as empresas inovadoras têm estratégias bem definidas de inovação, tanto para as de caráter incremental, orientadas para o passado, quanto para as radicais, com potencial de gerar novos futuros. Comentamos também que as inovações requerem processos estruturados, que podem ser tão simples quanto “caixas de ideias” ou complexos quanto à criação de redes globais de inovação envolvendo empresas, universidades e centros de pesquisas. Mas qual é de fato o papel da liderança na criação e na sustentação de empresas inovadoras? Há espaço para a influência dos líderes? 

Pesquisadores da chamada “liderança situacional” argumentam que os valores pessoais dos líderes são determinantes das práticas das organizações que eles lideram. Segundo esses pesquisadores, os valores dos CEOs de grandes empresas são, de forma predominante, econômicos. Esse perfil tem se mantido imutável nas últimas quatro décadas e se caracteriza por líderes orientados para resultados financeiros, pelo uso econômico dos recursos e pelo acúmulo tangível de riqueza. Já os valores estético e social – o primeiro associado ao pensamento não racional, e o segundo, ao compromisso com as pessoas, à qualidade de vida e ao desenvolvimento pessoal – são de uma maneira geral menos pontuados, mas observados com maior frequência em empresas que se caracterizam pela criatividade e pela inovação.

Outros pesquisadores, os neurocientistas sociais, buscam entender as características do cérebro e a sua influência no comportamento social e organizacional. Eles sugerem que, apesar de os seres humanos serem capazes de transmitir ideias e adotar inovações mais rapidamente do que qualquer outra espécie, nosso cérebro é formado por estruturas que buscam se adaptar a diferentes circunstâncias do meio ambiente de forma incremental. Segundo esses pesquisadores, o futuro, o desconhecido e o novo levam a uma sensação de incerteza e insegurança, à qual nosso cérebro reage como se fosse uma ameaça. Em contextos de incerteza e ambiguidade, o cérebro assume uma posição defensiva, tomando decisões mais seguras e conhecidas. Para os neurocientistas sociais, essas emoções e comportamentos do cérebro humano podem ser minimizados pela criação de um ambiente de confiança. Isso cria um contexto em que as ameaças são reduzidas, e a busca do novo e a criatividade são liberadas. Líderes, nesse contexto, são aqueles que, além de motivar, inspiram a confiança. Um líder confiável, que tenha alto envolvimento emocional com uma causa ou um objetivo, é capaz de transmitir para o grupo segurança para experimentar e inovar. Neurocientistas têm pesquisado as fontes de confiança em grupos sociais e observam que a confiança está associada a um hormônio chamado oxitocina, produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior. Estudos com grupos de estudantes em jogos de risco sugerem que a oxitocina afeta de maneira especial o comportamento dos indivíduos em aceitar riscos em situações de interação interpessoal.

Assim sendo, como os líderes podem influenciar suas organizações para serem mais inovadoras?

Primeiro, sendo confiáveis e transmitindo de forma honesta e objetiva histórias sobre o futuro, mesmo que tenham dúvidas de como chegar até esse futuro.

Segundo, reconhecendo que o ganho econômico se dá por meio da criação permanente, desafiando paradigmas e modelos dominantes e valorizando as pessoas. O econômico pode até ser o fim, mas nunca o meio.

Finalmente, desafiando suas organizações e suas equipes para irem além. Criando um ambiente inspirador e produtivo, com uma definição clara de objetivos, pessoas capazes e treinadas e processos bem definidos.

Em resumo: ser confiável, ter valores inspiradores e organizar para inovar.

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